20 de set. de 2007

La Verité

A verdade nem sempre é aquela que se enxerga.
Menos ainda aquela que se mostra.
O que é verdade?
O que os olhos vêem?
O que a alma capta?
Um valor humano?
E se você tiver um olhar desalmado e for cego de espírito?
E se os valores se descarrilharem nos trilhos do tempo?
Magritte já diria que a imagem é uma traição por si só.
Seria a imagem uma verdade?
Se for.... fique à vontade... Segure e fume este cachimbo com a benção dos Deuses da ilusão!



La trahison des images - René Magritte

18 de set. de 2007

O amor sublime



"Gosto de ti apaixonadamente
De ti que és a vitória, a salvação,
De ti que me trouxeste pela mão
Até ao brilho desta chama quente
A tua linda voz de água corrente
Ensinou-me a cantar...e essa canção
Foi ritmo nos meus versos de paixão,
Foi graça no meu peito descrente,
Bordão a amparar a minha cegueira,
Da noite negra o mágico farol,
Cravos rubros a arder numa fogueira.
E eu, que era neste mundo uma vencida,
Ergo a cabeça ao alto, encaro o Sol!
Águia real, apontas-me a subida"

Florbela d'Alma Espanca

17 de set. de 2007

Falta ele meu Deus...falta ele...a saudade é dele...a saudade é dele...


Era um lindo dia ensolarado. As mangueiras estavam floridas e o vento fresco bagunçava meu cabelo. O campo parecia infinito e minhas perninhas, tão finas, incapazes de percorrê-lo.

Estava eu ali parada a analisar o gado que pastava. Eu não tinha mais do que sete anos. Aquele dia de primavera era atípico. O sítio do meu avô era nosso passatempo preferido nos feriados e férias escolares, mas naquele dia eu estava só. Não havia ninguém para brincar além de Beth e Formiguinha, minhas amigas imaginárias. Eu sento embaixo das duas mangueiras que cercavam a casa de meu avô. Fico pensando qual brincadeira escolheria. Acabar com a casa das formigas? Atazanar as galinhas? Parecia monótono para mim. Subitamente minha vista escurece. Um cheiro que misturava poeira e simplicidade toma o ambiente. Sinto medo e segurança. Vejo novamente a luz do Sol. Abro os olhos vagarosamente e avisto uma figura magra que me sorri. Vim brincar com você. Sinto-me completa. As horas passam sem que eu perceba. Brincar com espadas de madeira era fascinante. Risos, companheirismo, suspiros, aprendizado. Hoje, 17 anos depois, choro em silêncio ao relembrar o semblante acolhedor e seguro de meu avô. A saudade aperta, mas a sensação constante de que ele vem me ninar todas as noites me acompanha...e me conforta. Tenho total certeza de que o ser humano que me transformei tem muito do que aprendi com meu avô nesses e nos diversos dias que compartilhamos juntos. Sei que indiferente do plano em que ele estiver o que temos e cultivamos sempre será eterno...Te amo sempre e pra sempre....sua neta.

"Saudades de ti avô, do carinho que um dia me ofereceste e que eu
nunca perdi
Das nossas brincadeiras no jardim da minha infância
Das coisas que me ensinaste e que ainda não esqueci
Dos problemas e medos que me ajudaste a enfrentar
Das histórias que me contaste e que no teu colo ouvi de quando eu era
criança e tu eras a mão que me guiava
Do tempo em que à porta por ti esperava...avô!"

Sheila Sousa

Tragédia Brasileira


Misael, funcionário da Fazenda, com 63 anos de idade, conheceu Maria Elvira na Lapa, - prostituída, com sífilis, dermite nos dedos, uma aliança empenhada e o dentes em petição de miséria.
Misael tirou Maria Elvira da vida, instalou-a num sobrado no Estácio, pagou médico, dentista, manicura... Dava tudo quanto ela queria.
Quando Maria Elvira se apanhou de boca bonita, arranjou logo um namorado.
Misael não queria escândalo. Podia dar uma surra, um tiro, uma facada. Não fez nada disso: mudou de casa.
Viveram três anos assim: toda vez que Maria Elvira arranjava namorado, Misael mudava de casa.

Os amantes moraram no Estácio, Rocha, Catete, Rua General Pedra, Olaria, Ramos, Bonsucesso, Vila Isabel, Rua Marquês de Sapucaí, Niterói, Encantado, Rua Clapp, outra vez no Estácio, Todos os Santos, Catumbi, Lavradio, Boca do Mato, Inválidos...
Por fim na Rua da Constituição, onde Misael, privado de sentidos e de inteligência, matou-a com seis tiros, e a polícia foi encontrá-la caída em decúbito dorsal, vestida de organdi azul.

Manuel Bandeira